Financiamento do setor de petróleo e gás na Amazônia cresceu em 2023
March 22, 2024
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San Francisco (Estados Unidos), 22 de março de 2024 – Análise da Stand.earth revela que o financiamento do setor de petróleo e gás na Amazônia continua a crescer, apesar do compromisso global com a transição rumo ao fim dos combustíveis fósseis. A organização estima que US$ 23,6 bilhões foram diretamente injetados na exploração e comercialização de petróleo e gás na região nos últimos 15 anos.
Os oito maiores bancos foram responsáveis por mais da metade do financiamento direto estimado entre 2009 e 2023, mas representam apenas 5% das entidades financeiras rastreadas na base de dados Amazon Banks Database. JP Morgan Chase, Citibank e Itaú Unibanco continuam ocupando as primeiras posições do ranking de bancos que lucraram com petróleo e gás em meio à aproximação de um ponto de inflexão na Amazônia. Eles vêm seguidos pelos bancos Santander, Bank of America, HSBC, Credicorp Capital Peru e Bradesco.
“Diante da intensificação do desequilíbrio climático, a ONU indica que nesta década serão necessários até US$ 387 bilhões por ano para a adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. Os bancos têm um papel chave para frear a destruição da maior floresta tropical do mundo e contribuir com a transição energética, mas estão agindo do contrário com o aumento do financiamento da exploração de petróleo e gás na região”, alerta Martyna Dominiak, Coordenadora do Programa de Financiamento na Amazônia da Stand.earth.
Banco Santander: o maior financiador da União Europeia de petróleo e gás na Amazônia
Na atualização da base de dados da Stand, o Santander se destacou como o maior financiador europeu de petróleo e gás na Amazônia. O banco espanhol destinou mais de US$ 1,5 bilhão ao setor entre 2009 e 2023, tornando-se também o quarto maior financiador a nível mundial. O Brasil é o principal mercado do banco, maior do que a Espanha.
Os dados mostram o Santander na direção contrária de entidades financeiras da União Europeia. Com as novas políticas ambientais do bloco – como o Pacto Verde Europeu e a Lei Antidesmatamento – e a crescente pressão de líderes indígenas e organizações da sociedade civil, surgiu uma tendência de restringir o financiamento de petróleo e gás na Amazônia.
Nos últimos anos, Barclays, HSBC, BNP Paribas, ING e Credit Suisse, por exemplo, implementaram alguma forma de política de exclusão geográfica para a Amazônia. Em outras palavras, essas políticas são um compromisso para acabar com o financiamento e o investimento em atividades relacionadas ao setor no bioma amazônico.
“Num momento em que a Amazônia enfrenta a ameaça de um ponto de inflexão, o Santander está aumentando seu financiamento para a extração de petróleo e gás na região da qual depende a estabilidade climática do planeta. Essa é a direção de crescimento contrária para um banco que argumenta que quer contribuir para a sustentabilidade. O Santander deveria ouvir os povos indígenas da Amazônia e cientistas e seguir o exemplo de outros bancos europeus que pararam de financiar o setor na Amazônia”, disse Dominiak.
Uma petição lançada pela Stand, junto com a We Move e a EKO, já reúne aproximadamente 200 mil assinaturas pedindo que o Santander pare de financiar atividades relacionadas a petróleo e gás na Amazônia.
Financiamento estimado (em USD) atribuído aos oito principais bancos que financiam diretamente petróleo e gás na Amazônia. Fonte: Stand Research Group (2024)
Financiamento associado ao desmatamento e à violação dos direitos de povos indígenas
Dominiak destaca que a exploração de petróleo e gás na Amazônia está frequentemente associada não apenas ao desmatamento (legal e ilegal) da região, como também à violação dos direitos dos povos indígenas. O relatório “Lucros do Colapso”, lançado no ano passado pela Stand junto com a COICA, expõe o financiamento a empresas que estão na contramão da sustentabilidade, como a Eneva.
Os bancos Itaú, Santander e Bradesco apoiaram o projeto do Complexo Parnaíba, da Eneva, que é a maior bomba de carbono na Amazônia. O Itaú e o Santander também participaram de emissões de títulos da empresa para financiar o projeto integrado Azulão-Jaguatirica, que apresenta uma série de irregularidades, conforme denuncia a rede Resistência Amazônica.
Em fevereiro, o Ministério Público Federal solicitou a suspensão da licença da Eneva para explorar gás no campo de Azulão, localizado na Bacia do Rio Amazonas, por não levar em conta a presença de povos indígenas na região e o impacto das operações no território. Além das etnias Muras, Mundurukus e Gaviões, que vivem na região, um estudo da Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostra evidências da presença de povos indígenas isolados.
Informações para a imprensa
Lays Ushirobira – lays.ushirobira@stand.earth / +34 685 20 05 91